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A narrativa da exposição
Setenta Anos do Exílio do Egito 1952 - 2022

18 de junho de 1953

O EGITO ABOLA A MONARQUIA E DECLARA UMA REPÚBLICA.

Em julho de 1952, os Oficiais Livres liderados pelo general Naguib e pelo coronel Gamal Abdel Nasser procederam com um golpe militar e culparam o rei Farouk pela perda da guerra de 1948 contra Israel. Eles formaram o “Conselho de Comando Revolucionário” de curta duração e nomearam Ali Maher Pasha como primeiro-ministro, que logo seria substituído por Naguib. O rei Farouk chegou ao palácio Ras-El-Tin, mas foi forçado a abdicar em 26 de julho e concordou em deixar o país no dia seguinte no iate real Mahrousa. O período não foi fácil, com confrontos e conflitos em torno de uma série de questões como a reforma agrária, a emenda da Constituição de 1923, o papel dos militares e a situação política em geral. Em 18 de junho de 1953, Naguib declarou o Egito como uma república abolindo a monarquia, dando fim aos 150 anos de domínio da dinastia Muhammad Ali sobre o Egito e o Sudão. Tornou-se o 1º Presidente da República Egípcia até novembro de 1954, sendo substituído por Gamal Abdel Nasser.

A NARRATIVA RESUMIDA EM SEIS TÓPICOS ESSENCIAIS

(Julho de 1952 a Julho de 2022)

1) Sionismo no Egito na década de 1930

Como aconteceu na maioria das comunidades judaicas da diáspora islâmica, a atividade sionista foi, em grande parte, limitada à angariação de doações em nome do Fundo Nacional Judaico (Keren Kayemet LeIsrael) e do Keren Hayesod (Fundo Comunitário). As federações sionistas foram estabelecidas no Cairo e Alexandria após 1917. No entanto, os judeus mais instruídos ou influentes eram hostis ou, no mínimo, indiferentes ao sionismo como movimento nacional. Durante o final da década de 1930, e especialmente na década seguinte, a atividade sionista aumentou com a ajuda de emissários do Yishuv (comunidade judaica na então Palestina), incluindo a Agência Judaica (Sochnut, autoridade para a comunidade judaica na região antes da independência do Estado de Israel) e o Mossad (serviço secreto israelense, criado no final de 1949).

Movimentos juvenis pró-sionistas expandiram o escopo de suas atividades e o número de seus membros. Entre os principais ativos no Cairo, em Alexandria e em Port Said nessa década estavam Hechalutz, Hashomer Hatzair, Bnei Akiva/Hapoel Há Mizrahi e, temporariamente até 1944, Betar (Revisionista). Continuaram a atuar de forma legal ou semi legal até 1948. No Egito, motins antijudaicos começaram em 1945. Após a eclosão da guerra contra o Estado de Israel, exatamente em 15 de maio de 1948, foram registradas prisões de judeus. Com a derrota egípcia aumentaram as manifestações contra judeus, o bairro judaico do Cairo foi bombardeado e, em 1949, começou o êxodo dos judeus, a maioria com destino a Israel.

O rei Farouk proibiu as atividades da Irmandade Muçulmana, prendendo líderes e membros do grupo, tranquilizando a comunidade judaica que tentava, então, continuar sua vida normalmente.

2) A Primeira Fase do Regime Nasser: abril de 1954 a outubro de 1956

Curiosamente, 1952 foi o melhor ano para os judeus do Egito: o rei Farouk foi destituído e subiu ao poder o general Muhammad Naguib, o mais filo-semita dos líderes egípcios. A ascensão de Nasser ao poder na primavera de 1954, após a libertação declarada pelo capitão Mohamed Naguib em 23 de julho de 1952, foi seguida de turbulência, enquanto o regime lutava contra os irmãos muçulmanos e os comunistas. O acordo entre o Reino Unido e o Egito, assinado no Cairo em 19 de outubro de 1954, substituiu o tratado Anglo-Egípcio de 26 de agosto de 1936, considerado sem efeito, o que implicou na evacuação das tropas britânicas na zona do canal de Suez

3) A renovação do judiciário no cenário político dominante anteriormente

O impulso para a homogeneidade nacional incluiu a abolição dos tribunais religiosos muçulmanos, cristãos e judeus em 1º. de janeiro de 1956. Este movimento foi motivado pelo desejo do Governo de fechar os tribunais religiosos muçulmanos, como parte da campanha contra a Irmandade Muçulmana. Um porta-voz do Governo caracterizou a lei como "um meio eficaz para alcançar a democracia", eliminando "todas as aparências de uma ordem especial, que limita a autoridade do Estado e sua soberania" e "realizando a unidade do judiciário" para todos os egípcios, independentemente de sua filiação religiosa.

4) O conflito israelense-egípcio

Os laços crescentes entre o Egito e o Bloco Soviético – como evidenciado por acordos comerciais da nação mais favorecida e um grande acordo de armas soviético em 1955, também aumentaram o potencial de um conflito israelense-egípcio. Nessa atmosfera de crescente tensão, treze judeus egípcios foram presos, acusados de serem espiões de Israel. O julgamento aconteceu entre dezembro de 1954 e janeiro de 1955. Este episódio teve forte impacto a longo prazo, tanto na política interna israelense quanto sobre a situação dos judeus no Egito, que começou a se deteriorar gradualmente a partir da segunda metade de 1954.

5) A crise de Suez com suas trágicas consequências para a comunidade judaica.

Dois relatórios preparados sob os auspícios do Comitê Judaico Americano, um datado de 7 de janeiro de 1957 e outro de julho do mesmo ano, ajudaram a esclarecer um pouco mais as medidas oficiais e não oficiais contra judeus e estrangeiros imediatamente após a Crise de Suez. Em novembro de 1956, as autoridades egípcias detiveram entre 900 a mil judeus, 400 a 500 foram internados na escola judaica Abbasiya, a maioria deles apátridas ou cidadãos egípcios; no Batesh, escola judaica em Heliópolis (Cairo), várias dezenas de judeus, principalmente mulheres e crianças, foram internados; na prisão Les Barrages, perto da capital, 250 a 300 judeus foram detidos (metade deles eram apátridas, os outros franceses e súditos britânicos).

A expulsão de judeus, principalmente chefes de família, também se tornou rotina no final de 1956. De acordo com o primeiro relatório do Comitê Judaico Americano, para as autoridades egípcias o método mais eficaz de livrar o Egito dos judeus seria através da emigração forçada. Desde o fim de novembro desse ano, a expulsão individual direta foi complementada por métodos de intimidação e guerra psicológica. Sob pressão e assédio econômico, um grande número de judeus decidiu deixar o Egito voluntariamente e, no caso de cidadãos egípcios, renunciar à cidadania. Muitos foram forçados a abandonar suas propriedades. Cada pessoa tinha direito de levar apenas duas malas de roupas e 20 libras egípcias.

6) A Campanha do Sinai de outubro de 1956, determinou o início do exílio

A Guerra de Suez de 1956 e seu resultado colocaram as comunidades judaicas egípcias em situação precária, sem paralelo desde o final da década de 1940, com a Guerra de Independência do Estado de Israel.

A deterioração da situação política entre o Egito e Israel, que culminou na Guerra do Sinai (também conhecida como Guerra de Suez) de outubro de 1956, se provou devastadora para quase 40.000 judeus no Egito em comparação com 60.000 judeus residentes em 1948. Desde o final da guerra de 1956 até setembro de 1957, 21.000 judeus exilados foram expulsos sob "sutil pressão". Em fevereiro de 1960, este número ultrapassou 30.000.

A Crise de Suez e suas consequências marcaram o início do fim para as comunidades judaicas do Egito. Poucas famílias permaneceram nas cidades e vilarejos menores, e a maioria continuava concentrada no Cairo e em Alexandria. Entre 22 de novembro de 1956 e 15 de março de 1957 um total de 14.102 judeus deixaram o Egito, como resultado da nova política. Muitos judeus apátridas foram enviados para a Grécia ou Itália, em navios fretados pela colaboração internacional do Comitê da Cruz Vermelha (ICRC). Na primavera de 1957, esse êxodo havia gradualmente desacelerado. Porém, as comunidades judaicas egípcias foram consideravelmente reduzidas. Após a Guerra dos Seis Dias, sob intensa perseguição política e ainda sob o governo Nasser, os últimos judeus do Egito deixaram o país até meados de 1970.

Conclusão e Nota complementar:

É também relevante mencionar o percurso da política no Egito desde os Acordos de Paz de Camp David, em 17 de setembro de 1978, até a Onda Revolucionária da Primavera Árabe, iniciada em 18 de dezembro de 2010.

Em 2013, num dia quente de verão no Cairo, Abdel Fattah el-Sisi – então ministro da Defesa – apareceu na TV pedindo aos egípcios que tomassem as ruas e o incumbissem de lutar contra a potencial violência. Sisi se referia ao governo de Mohammed Morsi e sua Irmandade Muçulmana. El Sisi, que moderniza o país com dificuldade, permanece no poder até os dias atuais.

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Sexta-feira 15 de Março de 2022

Sami Douek