60 Anos em 2022

Na foto de capa está o terraço de casa à Rua Chawarbi na cidade do Cairo, uma travessa da rua Kasr El Nil, onde foi um espaço de brincadeiras com amigos e familiares. O terraço era extenso e bastante largo, Ficava o último andar do prédio, certamente uma construção relativamente nova dos anos 1950. Morávamos no sexto andar logo abaixo da lavanderia do prédio. Naquele terraço e no verão nos reuníamos até com mesa de Jantar. Em 1959 por ocasião do Bar Mitvah do meu irmão Alfredo Douek, foi servida uma segunda mesa neste mesmo terraço. Vivíamos bem no Egito!

A Saída Gradativa dos Judeus do Egito, da sua Terra Natal, em Uma História Bem Particular


Escrevo este texto nada “genérico” pois descreve um passado da minha infância às vezes sofrida mas não sempre, quando hoje me reconheço entre os judeus do Egito. O texto que escrevo hoje e o vídeo que publico hoje vem das minhas memórias ou "Zekrayat” como se diz e como se canta em árabe.
Se canta o árabe que também me significa uma cultura familiar..
Estou celebrando hoje os 60 anos da saída do Egito.

A saída definitiva do Egito data de janeiro de 1962 e guardo deste dia algumas imagens que são resgatadas em bagagem do meu pensar. das minhas experiências de infância e dos momentos mais sensíveis desta época tão traumatizante quanto libertária. A saída do Egito significou o fim de uma época com data marcada em silêncio e por diversos caminhos regados à tristezas. Associo a este momento muito mais do que uma trajetória da vida e uma transição que não me era tão evidente, necessária ou perceptível nem mesmo durante os ataques aéreos sobre o Cairo em 1956. Blecautes e sirenes sobre as nossas moradias em terra natal fazem tristemente um marco de união da família, uma união pelo medo do inimigo. Quem era de fato inimigo a não ser a guerra que não mede nem escolhe seus alvos? Afinal a guerra veio para intrigar os pequenos diante do jogo político de conquistas territoriais contra direitos de soberania e outras questões que nada agregam ou subtraem daquele medo que nós unia sempre próximos uns aos outros. Esta união prevalece sem até mesmo no exílio por um instinto natural de preservação e de sobrevivência ao incerto. Mantenho esta imagem e sentimento de união persistindo até hoje e guardo no peito este sentimento já faz mais de 60 anos hoje.

Sami Douek
25 de janeiro de 2022


HOMENAGEM PÓSTUMA

Em homenagem aos meus pais e aos 20 anos do falecimento do meu Pai David Douek (Z"L) em 4 de Janeiro de 2022